Aranha
por Victor Aranha
Recentemente me vi afligido por uma curiosidade peculiar, sobre meu próprio nome. Não todos eles – pensando bem eu tenho um monte. Apenas o segundo, Aranha. De onde teria vindo? Quem teria sido a pessoa que decidiu que um bichinho de oito pernas seria aquilo que iria marcar sua vida e de toda sua família? Teria sido um tecelão? Um artesão? Mero doidivanas? Eu simplesmente precisava saber.
Decidido a chegar até as raízes de minha árvore genealógica passei a caçar todos os resquícios de informação sobre o passado. Registros online foram um bom começo para rastrear minha ancestralidade, mas rapidamente deram lugar a empoeiradas certidões de nascimento que, por sua vez, levaram a registros históricos de viagens além-mar e, por fim, a histórias preservadas somente na memória coletiva e na tradição oral. O que eu descobri foi surpreendente e muito esclarecedor.
Tudo começou na África ancestral, o berço da humanidade. O primeiro a ter esse nome não o escolheu por causa das aranhas, e sim por ele próprio ser uma aranha. Anansi, a Aranha nasceu em um tempo quase esquecido, quando o mundo não tinha histórias e viver era uma triste penação. Foi ele que, tecendo sua teia prateada, subiu aos céus onde as histórias eram guardadas e as trouxe para o mundo, tornando-se o Deus das Histórias.
Rapidamente as histórias se espalharam por todos os cantos do mundo e, junto com elas, os descendentes da Aranha. Na Grécia antiga, uma ancestral desafiou a Deusa Atena, e teve um triste fim, eternamente recontado. No Japão eles residiam nas nuvens, perto do céu de onde todas as histórias vieram. E em diversas partes do mundo os fios de histórias tecidos por Aranhas levavam de volta ao começo do mundo.
Eventualmente as histórias trouxeram meus antepassados para as florestas e costas rochosas no topo da América, muito antes dela receber esse nome. Foi no frio do norte que a Mulher Aranha chamada Asibikaashi, vendo seus filhos espalharem-se por terras cada vez mais distantes, passou a tecer teias em meio a círculos feitos com galhos de salgueiros. Essas teias iriam apanhar os pesadelos, permitindo que apenas os sonhos bons entrassem na mente de suas crianças onde quer que estivessem. Até hoje os apanhadores de sonhos criados pela Aranha são usados para proteger o sono de milhares por todo o mundo.
E, um dia, Aranha chegou às partes mais tropicais do continente. E aqui continuamos, honrando a tradição orgulhosa que esse nome traz, tecendo contos, enredando narrativas, tramando fábulas, urdindo lendas. É algo que corre no sangue.